Depressão, relações tóxicas e sofrimento psíquico são algumas das consequências do bullying que afetam a vida adulta
O bullying é uma violência que acontece de forma repetida e que pode acontecer entre grupos ou entre indivíduos. O cyberbullying é a mesma coisa, mas praticada em ambientes virtuais. As consequências dessa opressão contínua vão além da infância e da adolescência: elas afetam a vida adulta. “O bullying na criança e no adolescente tem uma janela de vulnerabilidade muito intensa porque estamos falando de um cérebro ainda em formação”, explica a pediatra e hebiatra Maíra Terra, do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Com o cérebro ainda em formação, o estresse recorrente pode alterar o desenvolvimento neuropsicológico da criança ou do adolescente. “Se eu tenho repetidamente relações conflituosas e opressoras, eu vou criando uma arquitetura cerebral difícil”, explica a pediatra. Isso pode aumentar a tendência de comportamentos de risco, como automutilação e, a longo prazo, ideação suicida.
É comum escutarmos comentários como “é só uma brincadeira”, quando se trata de bullying ou cyberbullying, o que é um grande equívoco, pois a brincadeira não tem o intuito de causar sofrimento no outro. “Na brincadeira, todo mundo brinca junto. No bullying, tem uma assimetria [de poderes], tem sofrimento, dor e angústia. E tem a história da plateia, que é quase uma manutenção dessa estrutura de poder”, exemplifica a especialista.
Ao contrário do que muitos acreditam, o bullying não afeta somente o alvo, mas todas as pessoas envolvidas, como o agente agressor e a plateia. Em algumas vezes, o agressor sofre algum tipo de violência em outro ambiente. “Ele já tem um ambiente violento e é assim que ele lida com as emoções”, esclarece Maíra. Para romper esse ciclo em que, muitas vezes, o agressor se torna o alvo ou em que o alvo se torna o agressor, é preciso “identificar essas personalidades e trabalhar elas, por exemplo, trabalhar a autoestima em quem é alvo”, de acordo com Maíra Terra.
O papel dos responsáveis é extremamente importante para identificar se a criança ou o adolescente é alvo de bullying. Para isso, é preciso ficar atento aos indícios, que vão além da agressão física ou material. Segundo a pediatra, os sinais de bullying se parecem muito com sintomas médicos, “são sintomas meio migratórios; dor no pé, dor de barriga, perdeu o interesse, queda do rendimento, compulsividade […] essa mudança que começa sutil, mas a longo prazo pode ser um adolescente que não sai mais de dentro do quarto. São todos sinais de algum sofrimento psíquico”. Maíra alerta também para a imersão no mundo virtual, “as relações estão muito difíceis, então eu vou tentar relações fantasiosas”, pontua.
“O bullying não é normal, não é uma brincadeira. A gente precisa levar isso com seriedade, a gente precisa falar sobre isso. Se a gente não quebrar isso, vai gerar sofrimento pra todo mundo, pode culminar em uma saúde mental prejudicada, com relações sociais tóxicas lá na frente e com dificuldade de relacionamento.” – Pediatra e hebiatra Maíra Terra
Recentemente foi sancionada a Lei 14.811, que inclui o bullying e o cyberbullying no Código Penal Brasileiro, além de aumentar as penas para crimes cometidos contra crianças e adolescentes.
Assista à entrevista completa abaixo: