Como os hospitais estarão preparados para lidar com questões como a finitude da vida quando o futuro aponta para o crescimento da população de idosos?
Foi com essa questão que o mestre em medicina preventiva Sérgio Rodrigues Zanetta abriu a primeira palestra desta quinta (24) do Congresso de Clínica de Administradores Hospitalares, que acontece durante a 25ª edição da Hospitalar, em São Paulo.
Aos olhos do primeiro palestrante, o coordenador do núcleo de cuidados paliativos do Hospital das Clínicas da USP, Ricardo Tavares, existe um déficit na formação do médico quando o assunto é saúde no envelhecimento, pois os profissionais são treinados para lidar com questões agudas.
“O cuidado paliativo surge a medida que não tenho mais como prolongar a vida – o que costuma ocorrer, em média, dois dias antes da morte”, explicou o ele, criticando a visão tradicional de tratar apenas a doença, sem dar atenção ao sofrimento humano. “Precisamos mudar a estratégia de atuação em saúde para permitir que um médico não especialista em cuidados paliativos saiba avaliar a situação e garantir e tomar as melhores decisão para o paciente e seus familiares”.
Na sequência, o especialista em geriatria e cuidados paliativos do Hospital das Clínicas da USP, Fábio Leonel, tratou dos ambientes de cuidados dos idosos, afirmando que a principal frase dita por essa população é “eu não quero ser um problema para os meus filhos”.
Crítico aos prontos-socorros e UTIs, que de acordo com ele costumam ser ambientes hostis ao idoso, o geriatra ressaltou que em muitos casos manter esses pacientes em alas como essas gera custos desnecessários para ambos os lados: em sofrimento ao idoso e em gastos aos hospitais. E, em contra partida, defendeu a assistência domiciliar como alternativa.
“Nossa alma está em casa. Todo mundo que já esteve internado sabe como é a vontade de voltar para o nosso lar, onde nos sentimos bem. E é possível se cuidar em casa”, afirmou, citando o Núcleo de Assistência Domiciliar Interdisciplinar (NADI) como exemplo bem sucedido. “Com mais de 20 anos de atuação, o núcleo comprova a efetividade desse ambiente de cuidados.
A última palestrante, a médica geriatra do ambulatório de demências graves do Hospital das Clínicas da USP, Lilian Schafirovits Morillo, levantou questões ligadas a dois termos pouco conhecidos no vocabulário médico: mistanásia e etarismo.
O primeiro, mistanásia, classificado como “eutanásia social”, trata da morte infeliz, que não deveria acontecer e que é abreviada por conta das condições sociais inadequadas. Já o segundo, etarismo, trata do preconceito de idade e intolerância ao idoso – um mal que acomete não apenas a sociedade, mas que gera muito sofrimento no ambiente hospitalar.
“Existe essa tendenciosidade no sistema de saúde para negar recursos só por se tratar de um idoso. Médicos desconsideram certas dores nos idosos que seriam tratadas em pacientes mais jovens”, explicou ela, alertando os presentes com o dado de uma pesquisa sobre fratura do colo do fêmur em pacientes de idade avançada. “Apenas 25% recebiam analgésicos”.
“É preciso encarar como a nossa sociedade é preconceituosa com o idoso e como o custo vem antes do social para conseguirmos evitar a mistura da etarismo com a mistanásia. Para isso, acredito que é preciso vestir o sapato do outro, deixar de falar no idoso como um conceito distante, afinal, é o que todos seremos um dia. Falar do idoso é falar de nós”, encerrou a especialista.
A Hospitalar 2018 acontece no Expo Center Norte, em São Paulo, de 22 a 25/05. Acompanhe a cobertura da TV Doutor clicando AQUI